A volta de Patrícia


Linda e sensual na Praia do Diabo, no Rio,a atriz se despede da vilã Flora, que a consagrou em A Favorita, prepara-se para retomar o estilo de vida mais tranquilo e não vê a hora de poder descansar ao lado do marido, Ciro Gomes, da família e dos amigos

A vilã sai de cena. A atriz se consagra e a sensualidade de Patrícia Pillar novamente aflora. Ou ainda será a Flora? Não, a vilã está de partida e quem a interpretou brilhantemente faz o resgate de si mesma. O olhar de gata, o sorriso iluminado e o andar hipnotizante voltam a compor a mulher que vive num universo oposto ao da personagem. Generosa, apaixonada, radiante e simples. Patrícia está de volta. Depois de um ano de trabalho exaustivo, tudo o que deseja agora é tempo. "Quero estar com meu marido, minha família e meus amigos", diz. A rotina das gravações no Projac, no Rio, dará lugar a atividades leves. "Vou ler os livros que comprei e não consegui ler durante a novela, quero ir ao cinema, andar na praia e cuidar das flores que tenho em casa. Isso já me deixará bastante feliz."

Na praia do Arpoador, caminhando de roupão pelo calçadão no dia do ensaio para Gente, a atriz achava graça de si mesma e ria para as pessoas que a reconheciam e elogiavam. Com calma e senso de humor, ainda atendeu aos pedidos de autógrafos e fez fotos com fãs. O tempo estava nublado, frio e, por absoluta coincidência, a locação escolhida era a Praia do Diabo, no Rio.

Na areia, diante das lentes do fotógrafo Eduardo Resende, Patrícia transformou-se. Correu na areia, sentou nas pedras. Os 45 anos não marcaram a pele perfeita e o corpo que ela mantém em forma há mais de 20 anos. "Esse vestido é lindo", disse, referindose a um modelo tomara-que-caia azul do estilista André Lima, que minutos depois ficou encharcado por uma onda que não estava no roteiro. Foi possível apenas um clique na beirinha d'água antes do estrago. Patrícia começou a rir muito. "Ihhh! Molhou todo o vestido!", exclamou. A foto, que ganhou a capa, ficou linda. "Patrícia tem uma sensualidade sofisticada que é só dela. É na maneira de olhar, de sentar. Ela sabe que é uma mulher bonita e sabe as armas que tem. É muito sexy e sedutora", derrete-se o maquiador Alê de Souza, que a maquiou, penteou e idealizou o ensaio.

Cuidado com a alimentação é um dos segredos da atriz. Durante as gravações de A Favorita, ela aderiu à "marmita". "Cansei de ver a Patrícia indo para o estúdio com um prato de comida na mão porque não tinha sequer tempo para almoçar. Ela ainda trazia drops de hortelã e chocolate para nós. Me tornei freguês dela", brinca o ator Ary Fontoura. Generosa, ela também não hesitava em dividir o prato com um amigo "faminto" na hora do almoço. "Uma vez, ia pedir comida, mas ela disse que eu podia passar mal e era melhor comer da marmita que ela havia trazido de casa", conta Alê de Souza, que tem várias restrições alimentares. "Parecíamos dois operários dividindo a marmita", diverte-se ele. No dia do ensaio para Gente, os dois também racharam a refeição. "A Patrícia veio se preparar na minha casa e trouxe o almoço. Quando senti aquele cheiro delicioso, pedi para provar e acabei comendo quase todo o frango enroladinho com legumes", lembra ele.

Na bolsa da atriz e numa gaveta da sala de maquiagem, onde Patrícia se preparava para compor a personagem e encaracolava ainda mais os cachos com babyliss, era comum encontrar várias barras de chocolate guardadas. O doce era o trunfo para acompanhar o ritmo do trabalho. "Não entendia como a Patrícia aguentava o pique. Eram muitas cenas e texto para decorar. Aí ela me mostrou os chocolates. Comia aos poucos e distribuía. Dizia que tinha que buscar alimentos que dessem energia", conta Elizângela.

Outra curiosidade: antes de gravar cenas fortes ou de ação, Patrícia tinha uma preparação peculiar. Ela chegava cedo e era comum vê-la correndo ou fazendo exercícios para suar e ficar agitada. "Eu achava estranho. Uma vez, ela estava andando rápido e dava socos no ar enquanto sussurrava de forma agressiva 'Gonçalo!, Gonçalo!'. Parecia incorporada pela Flora", conta Mauro Mendonça. Com Cauã Reymond, usava outra técnica. Havia entre os dois atores um código antes das cenas fortes. "A gente combinava de não se falar até a gravação. Nesse silêncio, ficávamos nos provocando como os personagens", conta Cauã. Só depois voltavam a se falar.

A preocupação não era só com a própria interpretação. Era comum vê-la aplaudindo a cena de um colega. "Trabalhamos muito para conseguir uma relação atípica entre a mãe que não gosta da própria filha e vice-versa. Ela é uma atriz brilhante", elogia Mariana Ximenes. Patrícia pedia para refazer até três vezes a mesma cena. "Ela é ligadésima no trabalho. Na tevê, esse rigor não é comum pelo volume de trabalho. Ficava preocupada que as cenas ficassem bem feitas e realmente ficavam melhores", diz Genésio de Barros, que interpreta o pai de Flora e adorava as tiradas da atriz. "Tivemos uma cena forte, em que discutíamos no hospital. No final, ela brincou porque eu estava de camisola e disse: 'Olha as perninhas dele. Minha próxima malvadeza vai ser colocar o papai para dançar can-can', lembra. No início das gravações, em maio, Patrícia convidou os colegas para um show da cantora Wanderléia, após um dia inteiro de gravação em São Paulo. "Fomos em turma: eu, ela e a Mariana. Foi divertido. Rimos muito", relembra o ator Thiago Rodrigues. É a Patrícia que encantou o público e os amigos. Na sexta-feira 16, noite do último capítulo de A Favorita, sai de cena uma das vilãs mais marcantes da tevê brasileira. "Essa vilã vai ficar na história", prevê Ary Fontoura. A seguir, Patrícia conta como foi viver essa experiência nos últimos dez meses.

Flora é um marco em sua carreira?
Acho que sim. Tive a sorte de escolher bons personagens, de trabalhar com grandes autores, consigo olhar para trás e ver que cada um deles teve importância para mim em algum momento. É claro que alguns mais do que outros, e a Flora pertence a esses mais marcantes, mais desafiadores, com certeza.

O que mudou em você depois de Flora?
Cada personagem vivido pode ensinar muito. Se ele é complexo e tão radicalmente diferente de mim, como é a Flora, torna esse processo mais desafiador. Agradeço ao João Emanuel e ao Ricardo Waddington por terem me convidado. É muito bom quando os autores e diretores olham para você de uma maneira inesperada, não óbvia.

O fato de Flora não ser uma vilã odiada pelo público a surpreendeu?
É um mérito do João Emanuel Carneiro, que conduziu toda a história com maestria. Ela, com sua maldade, tem um humor ácido. Não tem limites e é tão politicamente incorreta que chega a ser divertida. Talvez o público tenha achado interessante, depois de tantos personagens, me ver agora "brincando" de fazer a malvada Flora.

As maldades da Flora te faziam mal?
Mal não digo. O que acho é que não dá para passar totalmente em branco fazendo a Flora. Mas não tocada pela maldade, pelo astral dela. Não é propriamente isso. O que me dá é um cansaço. Uma exaustão física e emocional porque você lida com sentimentos ruins. Ela é uma pessoa que passa a vida tramando coisas, e, ao mesmo tempo, ela é muito corajosa, é quase uma suicida.Vive numa corda bamba, no alto de um trapézio fazendo saltos mortais. Essas cenas que gravo são sempre assim. Não tem nenhuma cena que ela esteja relaxada, tomando um sorvete. Se gravo 20 cenas num dia, saio muito cansada, porque é esse turbilhão por dentro. É difícil, cansa emocionalmente, cansa fisicamente. É assim, não que me sinta envolvida pelos crimes e maldades da Flora. Não levo o personagem para casa.

Como ficou a vida pessoal? Foi difícil conciliar com a intensa dedicação à Flora?
Minha vida pessoal é e sempre foi prioridade total. Às vezes meu ofício precisa de dedicação intensa, mas sempre busco compensar isso com um período de descanso.

Você diria que está vivendo a melhor fase de sua vida?
É uma fase de grande realização profissional. Além da novela tive o prazer de dirigir meu primeiro filme. Um documentário sobre a vida do grande cantor popular Waldick Soriano. Foi uma oportunidade de experimentar uma coisa que sempre quis. Fazer um trabalho onde colocasse, de forma integral, meu olhar. Esse filme é o meu ponto de vista sobre a vida e a obra de um artista que me toca verdadeiramente.

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