enterevista Top magazine- mês de setembro



Patrícia...


Ela sabe que ninguém é cachorro, não: é bonita, chique, bem-pensante e socialmente correta. Aliás, ela sabe também, ninguém é de ninguém¬¬-¬¬¬ todos têm sede de amor. Agora, tornou-se dona de nossos corações ao seguir o seu caminho dedicando-se a cantar a vida e a obra de Waldick, nosso mais derramadamente apaixonado trovador. Quem és tu, Patrícia Pillar? Só você.

“Vi um homem desamparado foi o que me fascinou de cara.”

Pelo radinho de pilha de sua babá, Patrícia ouvia a música de cantor romântico Waldick Soriano pela primeira vez. Criança, ainda não tinha vivência suficiente para assimila aquele repertório tão carregado de desventuras amorosas. Muitos anos depois, na faixa de seus 40 e poucos anos se já casada com Ciro Gomes, ela redescobriu em LPs antigos aquelas canções que estavam guardadas lá no fundo de sua memória. Quase caído no esquecimento, aos 72 anos, o dôo de hits como Tortura de amor e Eu não sou cachorro, não encontraria naquela atriz tão bem sucedida uma espécie de “fada moderna” que por três anos consecutivos, usaria todo o seu tempo livre para trabalhar em um único projeto: recolocá-lo no lugar em que ele estava quando ela era criança: no coração do povo. De 2005 a 2008(ano que Waldick morreu, aos 75 anos), Patrícia colheu mais de documentário Waldick, sempre no meu coração (em cartaz nos cinemas). Nas entrelinhas do filme e da entrevista, veja o olhar de Patrícia Pillar.

Como foi conviver com Waldick nos últimos anos da vida dele? Imaginava que teria pouco tempo?
Eu sabia que tinha uma urgência. Mas pensava que era só por causa do pouco tempo que eu tinha entre um trabalho e outro. Mas no fundo não era só isso. Como descobri que ele estava doente já no finalzinho do filme, pensei: “caramba, tinha essa urgência mesmo”. Fico muito contente de ter podido dar algo em troca ao que ele me deu. Ter dado tempo para que curtisse o lançamento do DVD e CD Waldick Soriano- ao vivo e de novo a possibilidade de cantar com uma orquestra. Lembro bem que no primeiro dia de ensaio ele deixou todos os músicos esperando por três horas. Quando apareceu, foi tão lindo que todos trataram com respeito. Fiquei com aquela emoção e agonia, porque eu era a coprodutora e tinha de tomar conta das coisas. Mas quando Waldick escutou o som daqueles músicos todos logo na primeira canção, ficou tão alegre que pensei: “consegui!” senti um prazer tão grande que fui para o outro lado do aquário no estúdio e as lagrimas escoriam. Lá do outro lado, eu não queria que ele me visse... Foi muito emocionante! Ele deu uma entrevista logo depois do ensaio. Hoje quando assisto aquelas cenas, parece que as vejo com muito mais significado. Como se tivesse uma função maior.

Durante a produção do filme, você se dirigiu esse show que deu origem ao CD incluso no catalogo de Charles Gavin com um dos 300 discos importantes da musica brasileira.
Pois é, eu fiquei toda prosa. A direção do show foi um acontecimento. Eu nunca tinha dirigido nada e de repente me vi de ante daquele show com 1.100 pessoas por dia e onze músicos, cenário, figurino... Eu tinha tempo de pensar sobre o filme que estava fazendo, mas não sobre o trabalho final. Fiquei bem contente com o resultado. Engraçado porque montar, dos filmes que quis fazer, por meio dessas escolhas sempre existiu um desejo de falar sobre aqueles assuntos. Então, quando vejo o filme hoje, reconheço ali assuntos dos quais eu queria falar. Embora seja o Waldick que esteja falando, é um olhra meu sobre ele.

E essa identificação veio, a princípio, pela música?
O fio da meada, sim. Mas quando fui puxando esse fio, foram vindo outros assuntos da música: o ritmo bolero, o som que tem a ver com o México. Cuba, com essa cultura latino-americana, caribenha, em fim, essas influências que me falam muito. Aquela poesia simples é muito direta do Waldick e a história de vida dele. Ele foi garimpeiro, quis pegar pedras... Tanto o garimpo quanto a lavoura têm um sentindo simbólico muito interessante para mim. Por meio da figura do Waldick de sua história, de ele ter sido um que saiu do interiorzão do Brasil e vindo para a cidade grande em busca desse sonho de ser artista. Imagine chegar sozinho aqui em 1950 e sei lá quanto... Essa bravura que foi o caminho de vários brasileiro foi me encantado. E quando conheci o Waldick tudo isso que eu imaginava sobre ele por conta de sua música, poesia e do pouco que eu sabia de sua história, juntou-se com aquela figura que encontrei. Só que de uma maneira surpreendidas. Porque, na verdade, acho que eu estava indo em busca de uma figura mítica. E, na busca por um personagem encontrei um homem.

“Sou Waldick, famoso no Brasil inteiro. E daí?”

Quem era esse homem que encantou tanto você?
Eu vi um homem desamparado, foi que mais me fascinou de cara. Senti um desamparo e uma divindade, uma integridade. Essa mistura me fez ficar totalmente seduzida pela ideia de me aprofundar, compreender, chegar perto do que teria sido a vida dele. Ali eu quis entender o seu passado, mas, ao mesmo tempo acho acabei entendendo não pelas coisas que ele me contou. Mas por sua vida presente, que foi o mais marcante no filme. Tanto que eu até tinha conseguido mais material de arquivo, mas aquilo tudo foi perdendo o sentido quando percebi que, na realidade, eu estava fazendo um filme sobre essas questões da vida de um homem que teve sucesso. Ele fala: “sou Waldick Soriano, sou famoso no Brasil inteiro. Sou famoso, mas e daí?”. Essa é a reflexão dele já velho sobre a solidão, velhice, morte, amores, sobre suas escolhas e conseqüências. Esses me interessaram. Mas ainda que os das histórias do passado. Foi surpreendente.

“Tenho anseio de que minhas escolhas mostrem um pouco de quem sou”

Até que ponto dirigir trouxe mais prazer do que atuar?
Eu adoro trabalhar como atriz, mas quantas vezes já dei meus palpites em diversos trabalhos em que participei exatamente como eu queria, mas sempre prevaleceu a opinião do diretor. O filme não era meu, a novela não era minha, a peça não era minha, nesse sentido, sabe? Eu ficava pensando: “Puxa, podia ser daquela maneira”. Tinha um limite na minha influencia ali. Eu tinha um ponto de vista, mas que não podia ser testado completamente. O trabalho de diretora é muito duro porque é muito solitário, mas ao mesmo tempo é prazeroso.

Tem vontade de dirigir o quê agora?
Antes eu queria uma ficção. E ai, pelos meus caminhos da vida, acabei dirigindo um documentário. Ainda tenho vontade de dirigir ficção, mas agora não é minha prioridade. Quero ter tempo, atualmente é o meu bem mais precioso.

Como tem aproveitado o seu tempo pós-Flora e lançamento o filme?
Primeiro eu quis arrumar a minha casa. No ano passado, na época da Flora, não tive tempo de olhar uma correspondência. Deixei juntar um monte de coisa. Fora isso, há os livros que comprei e que ainda não consegui ler, como o Budapeste. Agora estou lendo toda a biografia do Leonard Cohen e estou totalmente apaixonada pela poesia dele.

Qual é hoje a sua cena favorita de Waldick, sempre no meu coração?
[Pausa para pensar] Difícil... Tem aquela do inicio, quando ele está de perfil no carro viajando para encontrar os velhos amigos e faz uma reflexão sobre a vida do poeta. Faz parte essa coisa de viver longe, cada hora esta em um lugar, ter de se adaptar á falta de amigos. Ele diz: “É assim, fazer o quê? É a vida do poeta”. Essa reflexão eu lado linda. E também a parte do Boneco, que é um amigo dele. Os dois estão sentados no sofá; gente simples, pura. É belíssimo o depoimento de uma senhora que foi namorada dele aos 13 anos. É uma cena que acho que parece ficção é o encontro do Waldick com o filho. Mas tem aquela que acredito que tenha sido o maior contato com o homem Waldick, que é ultimo depoimento que ele da no filme. Ele fala da solidão, da felicidade de a qual estaria até hoje procurando. Acho que ficaria com essa.

Tem algo que você gostaria de dizer nos bastidores dessa entrevista?
Nossa... É engraçado, porque tem a nossa história real e há notícias que saem por ai. E são poucas as vezes que a gente se reconhece nelas. É como se fosse um ladrilho, que, juntas, não formam quem eu sou. È muito difícil sentir que há uma comunicação. E às vezes dá um pouco de vazio sentir que não rolou. Muitas coisas são ditas que não são verdades, não são exatamente como aconteceu. É difícil a gente sentir que está expressando e chegando ás pessoas, sem distorção. É muito bom sentir que você não veio com uma matéria pronta. Sinto que essa é uma chance de comunicação com menos ruído. Fico feliz quando acontece.

Quais os próximos passos com o documentário?
Eu quero me empenhar nas sessões populares. Cinema é caro no Brasil e tem muita gente que não vai por causa disso. Quero poder levar esse documentário às pessoas que gostam muito do Waldick.

E em relação à vida pessoal?
Sinto que agora estão começando as minhas férias, depois de oito anos. Agora que consegui organizar as coisas, estou sentido que a minha vida esta tendo uma ordem. Vou começar a usufruir um pouco do que pudesse ser um período de férias... Nossa, que ano maluco!


Entrevista digitada direto pro fã clube por: Camila Castro
30/09/2009

 

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