Às vésperas de completar 25 anos de carreira, a atriz arrebata o público e a crítica ao interpretar a maquiavélica Flora de A favorita e se transforma no grande destaque de 2008
Aquele seria mais um dos inúmeros vôos que Patrícia Pillar faria a São Paulo para gravar cenas externas de sua personagem em A Favorita. Da cabine de comando do avião, o piloto dava as informações de praxe como altitude, temperatura, tempo de vôo e condições climáticas da capital paulista. Tudo normal até que uma ressalva feita pelo comandante chamou a atenção dos passageiros. “Mas tudo pode mudar. A Flora está no nosso vôo.” A gargalhada foi geral. E os aplausos para Patrícia Pillar também. A atriz sorriu e agradeceu timidamente. “Nossa, eu morri de vergonha! Foi muito engraçado. Todo mundo se divertiu, mas eu queria sumir”, relembra Patrícia. O episódio ilustra apenas uma das muitas histórias vividas pela atriz desde que começou a encarnar a maquiavélica vilã da história de João Emanuel Carneiro. O desempenho magistral de Patrícia deu à personagem um lugar de destaque na galeria das grandes vilãs da teledramaturgia brasileira.
Conhecida por desempenhar mulheres altruístas, batalhadoras ou recatadas, Patrícia Pillar surpreendeu na pele da malvada. As mocinhas de boa índole vividas até então pela atriz, deram lugar a uma exceção na carreira de Patrícia. “Foi um presente. É bom quando os autores e diretores olham para você de uma maneira inesperada, não óbvia. Sou muito grata.” As atrocidades cometidas pela vilã diante dos olhares incrédulos de milhões de telespectadores fazem da personagem uma das mais comentadas dos últimos tempos e, sem dúvida, o grande destaque de 2008. O desempenho de Patrícia tem sido irretocável. Viver um tipo como Flora foi uma busca constante ao longo da carreira da atriz. “Adorei. É um personagem que me apresenta um caminho novo, um desafio diferente, que me fez renovar, um estímulo de ir por um lado que eu nunca fui.”
Às vésperas de comemorar 25 anos de carreira, Patrícia diz ter recebido uma jóia das mãos de João Emanuel Carneiro. O autor apostou na capacidade da atriz de “enganar” o público e mostrar uma Flora de rostinho angelical, mas maquiavélica. Para ele, o fato de a personagem estar na boca do povo deve-se à interpretação da atriz. “A Patrícia passou 56 capítulos defendendo uma possível heroína para, depois, se revelar uma vilã que não economiza atrocidades. Mesmo após a revelação, para muitos personagens, Flora ainda se faz de boazinha, o que exige dela um trabalho dobrado ao interpretar dois papéis”, explica o autor, que não poupa elogios ao trabalho e à entrega de Patrícia. “Só mesmo sendo uma atriz dedicada, talentosa e extremamente disciplinada”, elogia.
Filha de um oficial da Marinha, Patrícia nasceu em Brasília. Quando criança, a lourinha de olhos verdes adorava teatro e destoava das outras meninas. Não só pela beleza, mas pelo comportamento diferente. Patrícia era levadíssima e, ao contrário das amigas, detestava brincar de bonecas. Em seu quarto, em vez de casinha, joguinhos de chá, Susies ou Barbies, tinha uma coleção de carrinhos. “Não gostava desse negócio de brincadeira de garotas: de roupinha, cozinha, ficar sentadinha brincando de boneca. Achava tudo muito chato. Gostava de brincar com os meninos, de polícia e ladrão, de pique, de muita atividade”, relembra. Depois de muitas mudanças devido ao trabalho do pai – que por dever do ofício trocava de cidade a cada dois anos – aos 13, ela se encontrou ao mudar para o Rio de Janeiro. Na cidade, começou a fazer curso de teatro no lendário Tablado. “É claro que me ressenti de não construir amizades, mas por outro lado, já estava craque nessas dificuldades de adaptação. Quando cheguei ao Rio, não conhecia ninguém, mas fui atrás do que estava a fim de fazer”, conta.
Patrícia Pillar é assim. Uma mulher determinada que briga pelo que deseja. Profissional dedicada, sua rotina nos últimos meses se resume a casa-trabalho, trabalhocasa, raramente um cineminha. Tem dormido em média seis horas e meia por noite, nunca antes de decorar todo o texto do dia seguinte. Não importa a hora que chegue em casa, ou se tem que ler dez ou 20 cenas para estudar. “Fico até 2 horas da manhã decorando. É claro que demoro um pouco para dormir porque as cenas são fortes, até conseguir dar uma desacelerada, demora”, explica. O comprometimento da atriz é total. Antes de começar a gravar A Favorita, Patrícia intensificou suas atividade físicas e fez aulas de boxe. Achava que Flora lhe exigiria uma energia mais violenta. Também passou uma semana visitando detentas no presídio Talavera Bruce, no Rio. Não foi diferente quando fez a bóia-fria Luana, em O Rei do Gado. Conviveu durante duas semanas com cortadoras de cana de uma fazenda, no interior de São Paulo. “Fiquei com a mão cheia de calos. Não conseguia nem segurar o facão que era pesadíssimo”, relembra. “Gosto de me aproximar de quem vou retratar. Não dá para fazer um personagem sem conhecer a realidade daquela pessoa”, pondera.
A complexidade de Flora também a surpreendeu. “Achei que seria uma vilã mais ou menos. Não imaginava que ela seria tão má, tão perversa, tão amoral, tão doente, tão louca. Ela é completamente surpreendente nesse sentido”, avalia. Embora reconheça que a novela é um marco em sua carreira, Patrícia tem o cuidado de não supervalorizar a personagem, em detrimento das que viveu no passado. “Cada uma que vivi, foi um momento importante da minha vida.” Ressalta o prazer de contracenar com Eva Wilma na pele da doutora Cris do seriado Mulher, e com Tony Ramos como a Emerenciana de Cabocla. A oportunidade de ter ido à cerimônia do Oscar, quando O Quatrilho concorreu ao prêmio de melhor filme estrangeiro é apontado por ela também como um momento marcante.
Casada há dez anos com o deputado Ciro Gomes (PSBCE), a atriz afirma não ter a menor vocação para a carreira política. Hoje não saberia dizer se subiria ao palanque novamente para fazer campanha por político algum, mas abriria uma exceção: “Eu tenho um marido maravilhoso. E onde ele estiver, eu vou estar”, reafirma. O sucesso da mulher também é comemorado por Ciro. “Todo o público está testemunhando o trabalho extraordinário que Patrícia está fazendo como a vilã Flora”, diz, orgulhoso. Fã confesso de Patrícia, ele conta que fica impressionado com a sofisticação de sua interpretação. “Este personagem é o que deu à Patrícia maior oportunidade de demonstrar seu fino talento, fruto não só de seu amadurecimento como atriz, mas da impressionante disciplina profissional em oferecer o melhor aos telespectadores”, diz.
Conhecida por desempenhar mulheres altruístas, batalhadoras ou recatadas, Patrícia Pillar surpreendeu na pele da malvada. As mocinhas de boa índole vividas até então pela atriz, deram lugar a uma exceção na carreira de Patrícia. “Foi um presente. É bom quando os autores e diretores olham para você de uma maneira inesperada, não óbvia. Sou muito grata.” As atrocidades cometidas pela vilã diante dos olhares incrédulos de milhões de telespectadores fazem da personagem uma das mais comentadas dos últimos tempos e, sem dúvida, o grande destaque de 2008. O desempenho de Patrícia tem sido irretocável. Viver um tipo como Flora foi uma busca constante ao longo da carreira da atriz. “Adorei. É um personagem que me apresenta um caminho novo, um desafio diferente, que me fez renovar, um estímulo de ir por um lado que eu nunca fui.”
Às vésperas de comemorar 25 anos de carreira, Patrícia diz ter recebido uma jóia das mãos de João Emanuel Carneiro. O autor apostou na capacidade da atriz de “enganar” o público e mostrar uma Flora de rostinho angelical, mas maquiavélica. Para ele, o fato de a personagem estar na boca do povo deve-se à interpretação da atriz. “A Patrícia passou 56 capítulos defendendo uma possível heroína para, depois, se revelar uma vilã que não economiza atrocidades. Mesmo após a revelação, para muitos personagens, Flora ainda se faz de boazinha, o que exige dela um trabalho dobrado ao interpretar dois papéis”, explica o autor, que não poupa elogios ao trabalho e à entrega de Patrícia. “Só mesmo sendo uma atriz dedicada, talentosa e extremamente disciplinada”, elogia.
Filha de um oficial da Marinha, Patrícia nasceu em Brasília. Quando criança, a lourinha de olhos verdes adorava teatro e destoava das outras meninas. Não só pela beleza, mas pelo comportamento diferente. Patrícia era levadíssima e, ao contrário das amigas, detestava brincar de bonecas. Em seu quarto, em vez de casinha, joguinhos de chá, Susies ou Barbies, tinha uma coleção de carrinhos. “Não gostava desse negócio de brincadeira de garotas: de roupinha, cozinha, ficar sentadinha brincando de boneca. Achava tudo muito chato. Gostava de brincar com os meninos, de polícia e ladrão, de pique, de muita atividade”, relembra. Depois de muitas mudanças devido ao trabalho do pai – que por dever do ofício trocava de cidade a cada dois anos – aos 13, ela se encontrou ao mudar para o Rio de Janeiro. Na cidade, começou a fazer curso de teatro no lendário Tablado. “É claro que me ressenti de não construir amizades, mas por outro lado, já estava craque nessas dificuldades de adaptação. Quando cheguei ao Rio, não conhecia ninguém, mas fui atrás do que estava a fim de fazer”, conta.
Patrícia Pillar é assim. Uma mulher determinada que briga pelo que deseja. Profissional dedicada, sua rotina nos últimos meses se resume a casa-trabalho, trabalhocasa, raramente um cineminha. Tem dormido em média seis horas e meia por noite, nunca antes de decorar todo o texto do dia seguinte. Não importa a hora que chegue em casa, ou se tem que ler dez ou 20 cenas para estudar. “Fico até 2 horas da manhã decorando. É claro que demoro um pouco para dormir porque as cenas são fortes, até conseguir dar uma desacelerada, demora”, explica. O comprometimento da atriz é total. Antes de começar a gravar A Favorita, Patrícia intensificou suas atividade físicas e fez aulas de boxe. Achava que Flora lhe exigiria uma energia mais violenta. Também passou uma semana visitando detentas no presídio Talavera Bruce, no Rio. Não foi diferente quando fez a bóia-fria Luana, em O Rei do Gado. Conviveu durante duas semanas com cortadoras de cana de uma fazenda, no interior de São Paulo. “Fiquei com a mão cheia de calos. Não conseguia nem segurar o facão que era pesadíssimo”, relembra. “Gosto de me aproximar de quem vou retratar. Não dá para fazer um personagem sem conhecer a realidade daquela pessoa”, pondera.
A complexidade de Flora também a surpreendeu. “Achei que seria uma vilã mais ou menos. Não imaginava que ela seria tão má, tão perversa, tão amoral, tão doente, tão louca. Ela é completamente surpreendente nesse sentido”, avalia. Embora reconheça que a novela é um marco em sua carreira, Patrícia tem o cuidado de não supervalorizar a personagem, em detrimento das que viveu no passado. “Cada uma que vivi, foi um momento importante da minha vida.” Ressalta o prazer de contracenar com Eva Wilma na pele da doutora Cris do seriado Mulher, e com Tony Ramos como a Emerenciana de Cabocla. A oportunidade de ter ido à cerimônia do Oscar, quando O Quatrilho concorreu ao prêmio de melhor filme estrangeiro é apontado por ela também como um momento marcante.
Casada há dez anos com o deputado Ciro Gomes (PSBCE), a atriz afirma não ter a menor vocação para a carreira política. Hoje não saberia dizer se subiria ao palanque novamente para fazer campanha por político algum, mas abriria uma exceção: “Eu tenho um marido maravilhoso. E onde ele estiver, eu vou estar”, reafirma. O sucesso da mulher também é comemorado por Ciro. “Todo o público está testemunhando o trabalho extraordinário que Patrícia está fazendo como a vilã Flora”, diz, orgulhoso. Fã confesso de Patrícia, ele conta que fica impressionado com a sofisticação de sua interpretação. “Este personagem é o que deu à Patrícia maior oportunidade de demonstrar seu fino talento, fruto não só de seu amadurecimento como atriz, mas da impressionante disciplina profissional em oferecer o melhor aos telespectadores”, diz.
A um mês de completar 45 anos, a atriz continua dona de uma beleza exuberante. Para ela, a proximidade dos 50 não é um problema. “Olha, estou muito mais feliz hoje. Mais em paz, mais segura. Me sinto melhor, realmente”, afirma. Patrícia Pillar faz parte de um time de mulheres raras. Em 2001, comoveu o País ao revelar publicamente que enfrentava um câncer de mama. O drama vivido com tanta coragem e garra, no entanto, faz parte do passado. “Já não tenho mais nada a dizer. Posso dizer que estou maravilhosa”, resume.
Hoje o único desejo da atriz é continuar a sonhar. Um sonho que começou em 1981, em um grupo de teatro amador, e que depois seguiu pelo cinema e tevê, onde estreou em 84, no programa FMTV, com a apresentação de videoclipes. A primeira novela, Roque Santeiro, veio um ano depois. Em 2007, a atriz decidiu experimentar uma nova faceta de seu talento. Escolheu a vida do ídolo Waldick Soriano – morto em setembro passado -- como tema de seu primeiro documentário. Entusiasmada, ainda dirigiu um show e um DVD do cantor. “O filme já ganhou alguns prêmios em Portugal, e agora no Festival de Natal, mas eu não consegui ir. Mas isso faz parte. Foi um ano de dedicação ao trabalho”, diz.
A Favorita está na reta final, mas Patrícia ainda não sabe o que fazer após o último capítulo. Projetos só para março, quando pretende lançar o documentário sobre Waldick. “Era para ter feito esse ano, mas não deu por causa da novela. Quando terminar, quero ler, ver filmes, ficar com a família, encontrar com os amigos, enfim, respirar”, diz, ainda exausta pela entrega total à personagem após oito meses de muito trabalho. Sobre o destino que escolheria para Flora, ela faz mistério. “Não consigo imaginar. Também quero saber”, diz, soltando uma sonora gargalhada.
Hoje o único desejo da atriz é continuar a sonhar. Um sonho que começou em 1981, em um grupo de teatro amador, e que depois seguiu pelo cinema e tevê, onde estreou em 84, no programa FMTV, com a apresentação de videoclipes. A primeira novela, Roque Santeiro, veio um ano depois. Em 2007, a atriz decidiu experimentar uma nova faceta de seu talento. Escolheu a vida do ídolo Waldick Soriano – morto em setembro passado -- como tema de seu primeiro documentário. Entusiasmada, ainda dirigiu um show e um DVD do cantor. “O filme já ganhou alguns prêmios em Portugal, e agora no Festival de Natal, mas eu não consegui ir. Mas isso faz parte. Foi um ano de dedicação ao trabalho”, diz.
A Favorita está na reta final, mas Patrícia ainda não sabe o que fazer após o último capítulo. Projetos só para março, quando pretende lançar o documentário sobre Waldick. “Era para ter feito esse ano, mas não deu por causa da novela. Quando terminar, quero ler, ver filmes, ficar com a família, encontrar com os amigos, enfim, respirar”, diz, ainda exausta pela entrega total à personagem após oito meses de muito trabalho. Sobre o destino que escolheria para Flora, ela faz mistério. “Não consigo imaginar. Também quero saber”, diz, soltando uma sonora gargalhada.