Desejos de Patrícia Pillar

Atriz dá primeira entrevista após assumir namoro com o presidenciável Ciro Gomes, defende projeto de educação para o País e, com aliança de casada na mão esquerda, diz que a maternidade está chegando

Viviane Rosalem,
de Fazenda Nova (PE)

Versátil e talentosa, a atriz Patrícia Pillar, 36 anos, demonstra que está pronta para assumir qualquer papel. Inclusive o de primeira-dama. Namorada do candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, 42 anos, ela deixa transparecer o quanto está sintonizada com as eleições de 2002. “Já tenho meu candidato”, brinca. Sem mencionar em nenhum momento o nome do político, Patrícia parece que não poupará esforços para apoiá-lo. No script para compor seu mais novo personagem, ela já incluiu um trecho muito semelhante ao de uma plataforma política. “A base de tudo é a educação e o Brasil precisa de um projeto desse tipo para ontem”, afirma, ao ser indagada sobre seu maior sonho. O presidenciável prefere não revelar se incluiu alguma sugestão de uma engajada Patrícia em seu projeto de governo, mas mostra que tem os ouvidos atentos aos palpites da namorada. “Na nossa relação, a gente conversa sobre tudo. Inclusive sobre política”, diz Ciro Gomes ao celular. Ele diz que a participação da atriz em sua campanha ainda não está definida: “Vai depender da agenda dela”. Ao que parece, nos planos da atriz há uma prioridade. Ela manifesta o desejo de ser mãe logo. “Sinto que a maternidade está chegando”, diz. “Quero ter vários filhos e acho que serei uma boa mãe.” O mais provável pai sente-se menos à vontade para levar a público o seu desejo. “Não temos planos ainda”, resume Ciro Gomes.

Na família do ex-ministro da Fazenda, sua mãe Maria José Gomes não esconde o orgulho que sente da namorada do filho, mas também é reservada para expor o desejo de ser avó de novo. “Já tenho oito netos”, diz. Três deles – Lívia, 15, Ciro, 14 e Yuri, 10 – são filhos de Ciro Gomes com a deputada estadual Patrícia Gomes. “Mas sempre cabe mais um.” Maria José aprova o namoro e acha que a nova nora daria uma ótima primeira-dama. “Ela está fazendo meu filho muito feliz.”

A gravidez é um sonho adiado na vida de Patrícia. Durante seu casamento com o músico Zé Renato, 45 anos, ex-vocalista do grupo Boca Livre, ela chegou a pensar em engravidar, mas sua vontade não se realizou. “Ela trabalhava muito, eu também e deixamos o tempo resolver a questão”, diz o ex-marido. Os dois nunca dividiram o mesmo teto durante os dez anos que durou a relação. Sem perder sua tradicional discrição, Patrícia é reticente para falar sobre um futuro casamento com Ciro Gomes. “Não quero falar disso agora”, diz. Mas em Fazenda Nova, no sertão pernambucano, onde foi encenar o espetáculo da Paixão de Cristo, de quinta-feira 13 a domingo 23, ela se deixou fotografar com uma aliança na mão esquerda. Indagado sobre a aliança da namorada, Ciro não quis dizer há quanto tempo ela usa o anel. “Isso você pergunte a ela”, desconversou ele, que não usa aliança. O cenário serviu para mais um encontro do casal. Na segunda-feira 17, depois de passar o dia visitando correligionários no interior de Pernambuco, ele fez questão de conferir, à noite, a atuação da namorada e por lá pernoitou.

Se, em agosto, quando Gente revelou o romance, o casal não se permitia falar sobre o namoro e nem sequer ser fotografado, hoje Ciro Gomes se mostra mais relaxado entre os companheiros políticos quando o assunto é Patrícia Pillar. O ex-ministro até se deixa levar por pequenas travessuras, como mudar sua rota na última hora para se encontrar com a namorada sem avisar ninguém. Há poucos meses, estava em Brasília numa reunião da direção nacional do PPS e partiu à tarde para Curitiba, onde seria paraninfo numa formatura. Na hora prevista da chegada, os que o esperavam no aeroporto Afonso Penna estranharam sua ausência. Mais tarde descobriram que ele cancelara o check in para Curitiba e embarcara para o Rio, onde mora Patrícia.

ENCONTROS
O casal costuma se encontrar no apartamento da atriz no Jardim Botânico, no Rio, ou num flat de Ciro na alameda Santos, no bairro dos Jardins, em São Paulo. “Às vezes, ele sai do Piauí só para passar a noite com ela”, revela um companheiro de partido. Quando está viajando, ele não deixa de falar ao telefone com a namorada. É Jaqueline, uma espécie de governanta da atriz, quem faz o meio de
campo. “Às vezes ele está num intervalo de uma palestra e combina com a Jaqueline a hora que encontrará Patrícia”, diz um auxiliar do candidato. Com a namorada ao telefone, seu dia-a-dia na política é narrado nos mínimos detalhes. O presidente do PPS, o senador Roberto Freire, não tem dúvidas de que Patrícia se engajará na campanha de Ciro. “Já conversamos sobre política e constatei que ela é uma pessoa muito consciente”, diz Freire. “Quero ver o Brasil melhor”, sonha Patrícia. “Me faz mal ver tanta gente vivendo de forma precária.”

Para alguns integrantes do PPS, politicamente a participação da atriz é um trunfo. “Rezo dia e noite para ele não se separar dela”, diz um deputado ligado ao ex-ministro. “É claro que ela ajuda na campanha”, concorda Freire. “Tem uma imagem muito respeitada pela sociedade.” Ao que tudo indica, na classe artística, a atriz não enfrentará oposição. “Amaria ter Patrícia como primeira-dama”, diz o cineasta Fábio Barreto, que a dirigiu no filme O Quatrilho. Para ele, tanto ela quanto Ciro têm credibilidade e carisma. Carla Daniel, que contracenou com a atriz no seriado Mulher, acha que Patrícia não será patrulhada: “Ela e o Ciro são duas pessoas distintas, de profissões definidas e o relacionamento deles não mudará o estilo de cada um”. Sua impressão coincide com a do ex-marido da atriz. “Patrícia sempre foi transparente, teve suas próprias opiniões e não vai mudar de uma hora para outra”, diz Zé Renato.

Nascida em Brasília, a atriz morou em várias cidades, antes de se fixar definitivamente no Rio, aos 13 anos, em função da carreira do pai, o ex-oficial da Marinha, Nuno Pillar. “Na infância, fui levada”, diz. As peraltices alegravam a rotina saudável de uma família unida. “Família para mim é muito importante”, afirma Patrícia, filha da funcionária pública Lucy e irmã de Denise, que mora em Fortaleza. A provável futura sogra que o diga. Maria José Gomes sempre recebe demonstrações de carinho. “Estou com pneumonia e ela sempre me telefona, muito educada e simpática, para saber como tenho passado”, conta a mãe de Ciro, que mora em Sobral, no Ceará.

Para falar de si, Patrícia Pillar é modesta e diz que não se acha bonita. “Posso vir a ser, se me arrumar.” Mesmo assim é vaidosa. Vai à manicure, ao cabeleireiro e faz limpeza de pele. Plástica é um recurso que não a seduz. “Se não doesse tanto, mudaria meu nariz”, diz. “Na Globo, reclamam e me perguntam porque não faço a cirurgia. Mas tenho medo.” Lipoaspiração e silicone nos seios também são técnicas vistas com restrições. “As mulheres estão enlouquecendo e virando bonecas.” Ela afirma que quando precisar, talvez até vença seus temores. Discreta, adora roupas confortáveis e repudia transparências e decotes. Também não toparia posar nua para revistas masculinas. “Parece que hoje a mulher só serve para tirar a roupa”, critica. Em seu guarda-roupa, dificilmente há peças sofisticadas. “É raro eu comprar uma roupa cara”, conta. Na festa da entrega do Oscar, em 1996, quando O Quatrilho concorreu à estatueta de melhor filme estrangeiro, arranjou de última hora um vestido emprestado para ir à cerimônia. Em vez de percorrer lojas, ela visitava acampamentos de sem-terra para compor a bóia-fria Luana, que interpretou na novela O Rei do Gado. Nas ruas, é comum vê-la de cabelos presos e óculos de sol ou de grau para atenuar os quase quatro graus de miopia e dois de astigmatismo.

Para manter a forma, Patrícia controla o peso com bom senso. Come verduras, frutas, carnes e arroz integral, que muitas vezes ela mesmo prepara. Se hoje se preocupa com a alimentação, na infância dava trabalho aos pais. “Só comia batata frita e clara de ovo”, lembra. “Tive anemia quando criança e os remédios me enjoavam tanto que fiquei com aversão à comida.” Atualmente, permite-se extravagâncias como ir a um rodízio de carnes. “Na época do seriado Mulher, como o personagem não exigia tanto, engordei um pouco, mas agora já recuperei minha forma”, ressalta.

Com uma situação financeira confortável, Patrícia diz que ganha bem, tendo em vista a realidade do mercado de trabalho brasileiro e a situação econômica do País. “Trabalho desde os 16 anos”, diz a atriz, que estreou primeiro no cinema em Para Viver um Grande Amor, ao lado de Djavan. Comprou o primeiro apartamento aos 21 anos, quando entrou para a Globo na novela Roque Santeiro, a convite de Paulo Ubiratan. Na época, a atriz deixou a casa dos pais e foi morar sozinha. Desde então, fez sucesso nas novelas Salomé, Rainha da Sucata e Renascer. No cinema, atuou em oito longa-metragens, entre eles O Menino Maluquinho. Longe da tevê desde o fim do seriado Mulher, ano passado, Patrícia não quer saber de trabalho por enquanto. “Mas se pintar um bom personagem na tevê, aceito”, afirma. Em outubro, deve começar a gravar um novo longa. Ela é rigorosa na escolha dos papéis. E não costuma atuar em uma novela atrás da outra porque acredita que a televisão a consome muito. “Sinto necessidade de reclusão, de ficar no meu canto, de ler e estar com minha família”, diz. Recentemente, Patrícia concluiu o Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, e está lendo O Jogador, de Dostoievsky. Feliz com a carreira, tem vontade de viver no cinema Olga Benário, mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes enviada a um campo de concentração nazista pelo governo Getúlio Vargas. Mas a atriz não tem preferência por personagens intensos. “Varia com meu estado de espírito”, diz. “Se eu estiver como agora, tranqüila, prefiro um mais forte.” Se o personagem forte será nas telas ou num palanque de campanha, na pele de candidata a primeira-dama, até o fim do ano as cenas de seus próximos capítulos irão revelar.

 

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