Patrícia Pillar, diz que é o oposto de Flora em ‘A Favorita’

Patrícia Pillar, que poderia esperar uma certa hostilidade do público, acabou se surpreendendo com a reação do telespectador à sua megera Flora, em ‘A favorita’. 'Estou muito feliz por receber o apoio e o carinho do público, mesmo interpretando uma vilã. E tive a sorte de trabalhar com pessoas que admiro e que me ensinaram muita coisa. Olho para trás e vejo o quanto aprendi e como me orgulho de ter compartilhado alguns momentos com esses companheiros', diz.


É inegável que Patrícia será vista com outros olhos a partir do 'tsunami' Flora. Tanto para o público quanto para a classe artística, que sempre a assistiu na televisão em papéis mais mansos, sendo difícil imaginá-la feroz, irracional, uma louca. Mas a psicopata das oito virou a atriz de cabeça para baixo. 'João Emanuel (Carneiro, o autor) criou uma personagem que reúne todas as vilanias possíveis. Desde não amar a própria filha até matar friamente. Flora demanda muita energia e as cenas têm que vir impressas disso', diz Patrícia.

Ficou surpresa quando João Emanuel escolheu você para ser a vilã da história?
Flora é quase o meu avesso. É bom quando os autores e diretores olham para você de uma maneira inesperada, não óbvia. Isso tornou o trabalho mais desafiador e me fez ultrapassar muitos limites meus. A Flora me apresenta um caminho novo.

Foi difícil manter essa dubiedade da personagem no ar até o momento da revelação?
Era preciso dar credibilidade à intenção da Flora, que era provar sua inocência. Apenas não quis fazê-la frágil e, sim, dura na queda, para que tivesse uma base para segurar a personagem na virada.

Como conseguiu encontrar o tom certo para essas duas caras da personagem?
Tentei encarar como verdade os dois lados da Flora porque no meu modo de ver ela padece de dupla personalidade.

Se você tivesse sido escolhida para ser Donatela, acha que seria tão rico como está sendo com Flora?
A meu ver, tanto a Donatela quanto a Flora são personagens muito bem construídos. A Donatela é uma mocinha não convencional. Ela tem personalidade forte, é meio atrapalhada. Flora é perversa e sádica, mas muito irônica e bem humorada. As duas têm grande apelo popular. Se tivesse A favorita 2, gostaria de experimentar fazer a Donatela.

O que você buscou, fisicamente, para compor Flora?
Busquei a dureza da experiência na cadeia. E o boxe me ajudou bastante.

Você já se assustou com alguma atitude específica de Flora?
A forma com que ela matou o Gonçalo (Mauro Mendonça). Por essa eu não esperava.

O público ficou um pouco revoltado com João Emanuel quando ele decidiu que Flora seria a vilã. Como é a reação das pessoas nas ruas?
Estou muito feliz por, mesmo interpretando uma vilã, receber o apoio e o carinho do público. As pessoas falam 'como a Flora é má', mas sempre riem depois. De qualquer maneira, a Flora não tem limite, freio ou conveniência. E, no fundo, todos têm uma pitada de maldade reprimida. O público se identifica também com o humor, que surge da falta de pudor dela, ao chamar a filha de 'purgante' ou se referir a Irene (Glória Menezes) como uma 'toupeira'. De alguma maneira, traz um pouco de leveza para um universo tão pesado.

Para você, como Flora deveria terminar?
Não consigo imaginar um fim à altura das maldades da Flora. Acho que João Emanuel sempre foi criativo e deve me surpreender mais uma vez no final.

Matéria publicada na edição de 15/01/2009 do CORREIO)

 

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